terça-feira, 5 de abril de 2011

Conheça um pouco da poesia de Serafina Machado

NEGRA

Sou Mulher

Sou negra

Escura como a noite.

Escura como o Nilo, jorrando ondas de negralma.

Fui escrava.

Como mucama limpei o caminho dos meus senhores.


Fui corpo, sangue, orifício para o prazer do outro.


Fui operária, doméstica, lavadeira...


Negrimaculei a alvazia sociedade.


Costurei o rasgo da invisibilidade.


Subi o morro:

Favela de São Jorge.

Lá no alto, fui pássaro... Cantei.

Da África para o mundo

Mostrei minha voz humilhada,

Porém, no ritmo do tambor,

Forte.

Fui vítima

Da minha cor, do meu sexo.


Muitas portas

Fechadas.

Fui guerreira e acordei

No meio da noite... tiroteios

São Jorge havia liberado o dragão.

Cuspes de fogo tentaram queimar meus sonhos.

Resisti...

Sou mulher

Sou Negra

Sou pobre

Sou história.

Escura como a noite.

Escura como o Nilo, jorrando ondas de negralma.


Serafina Machado


(Enviada por Elaine Pereira)



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